Dom Helder dizia: ‘Quando me ocupo dos pobres, dizem de mim que sou um santo; mas, quando me pergunto e lhes pergunto:
‘Porquê tanta pobreza?’, chamam-me comunista”.
O arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, anunciou, na noite da última terça-feira, 15, que Dom Helder Câmara está mais perto de receber o título de venerável pela Igreja Católica. Agora, como medida protocolar, fica faltando só a declaração final do Papa, após um exame mais criterioso das provas, feito pela Congregação para a Causa dos Santos.
O anúncio foi feito durante o encerramento do 18° Congresso Eucarístico Nacional, que terminou ontem, em Recife.
“O vice-postulador da Causa de Dom Helder Câmara, Frei Jociel Gomes, comunica que foi emitido hoje em Roma o decreto de validade jurídica do processo, reconhecendo que todos os atos e toda a documentação feita na Arquidiocese foram aprovados pelo dicastério para a causa dos santos. É um grande passo, pois de agora em diante será nomeado um relator e será elaborada a positio, a fim de que o Papa possa declará-lo venerável”, comunicou o prelado.
Na prática, o Vaticano abre o processo para reconhecer a heroicidade das virtudes do religioso. Isso significa que ele está a um passo da beatificação, a qual pode ser efetivada se um milagre atribuído à sua intercessão for confirmado.
Porém, o Papa Francisco pode recorrer a uma medida, prevista no código de Direito Canônico, para dispensar esse critério. No caso, o sumo pontífice - e só ele - pode declarar a “beatificação equipolente”, ou seja, quando o candidato aos altares possui um culto espontâneo em torno à sua pessoa e trajetória. Para isso, basta que o santo padre emita um decreto.
Caso isso ocorra, não será a primeira vez que o papa argentino usará de suas prerrogativas para abrir essa exceção. Um caso famoso foi o de seu antecessor, João XXIII, que foi canonizado em 2014 sem exigência do milagre.
Francisco nunca escondeu sua admiração a Dom Helder, que já foi homenageado várias vezes ao longo do seu pontificado. Em 2016, em reunião com os bispos italianos, ele disse, citando o arcebispo cearense:
“Quando teu navio, ancorado muito tempo no porto, começar a criar raízes na estagnação do cais, faz-te ao largo, exortava D. Hélder Câmara”.
Em 2020, durante o tradicional discurso de Natal, dirigido à Cúria Romana, recordou o religioso brasileiro, chamando-o, inclusive, de santo:
“E recordo o que dizia aquele santo bispo brasileiro: ‘Quando me ocupo dos pobres, dizem de mim que sou um santo; mas, quando me pergunto e lhes pergunto: ‘Porquê tanta pobreza?’, chamam-me comunista”, enfatizou Francisco.
O processo de Dom Helder caminha a passos largos. Sendo assim, não nos surpreenderíamos se Francisco anunciasse sua beatificação no encerramento do Sínodo sobre a Sinodalidade, previsto para 2024. Isso porque o religioso cearense encarna o modelo de Igreja que Francisco tenta instaurar desde que assumiu o governo da Igreja Católica.
Conhecido como o bispo do diálogo - portanto, como um prelado sinodal - ele se tornaria o símbolo dessa transformação que o papa argentino realiza: uma instituição que promove o protagonismo de “todo o povo de Deus”, não somente os ditames da hierarquia.
E se formos fazer uma análise bem técnica de algumas decisões de Francisco, a própria canonização de João XXIII, de 2014, não foi simplesmente a ocasião para reconhecer a santidade desse papa. O “papa bom”, como era conhecido, foi o líder da Igreja Católica que convocou o Concílio Vaticano II (1962-1965), a assembleia que mudou a forma de atuação da Igreja Católica para colocá-la em contato com os anseios do mundo moderno. Sem contar que o próprio Papa Francisco admitiu que, caso não fosse chamado Francisco, adotaria o nome de “João 24” justamente por se alinhar com a forma de governar desse seu predecessor.
Sendo assim, a beatificação de Dom Helder também será carregada de simbolismo, caso ocorra no reinado de Francisco. Ele não foi só o bispo que lutou contra a ditadura, mas foi precursor desse modelo de Igreja que Francisco evoca. Declará-lo beato, portanto, vai além de reconhecer que ele intercede pelos mortais no céu, mas será a “sacralização” do clero que Francisco, a duras penas, tenta formar.
Então, vamos aguardar.
Mirticeli Medeiros
“O vice-postulador da Causa de Dom Helder Câmara, Frei Jociel Gomes, comunica que foi emitido hoje em Roma o decreto de validade jurídica do processo, reconhecendo que todos os atos e toda a documentação feita na Arquidiocese foram aprovados pelo dicastério para a causa dos santos. É um grande passo, pois de agora em diante será nomeado um relator e será elaborada a positio, a fim de que o Papa possa declará-lo venerável”, comunicou o prelado.
Na prática, o Vaticano abre o processo para reconhecer a heroicidade das virtudes do religioso. Isso significa que ele está a um passo da beatificação, a qual pode ser efetivada se um milagre atribuído à sua intercessão for confirmado.
Porém, o Papa Francisco pode recorrer a uma medida, prevista no código de Direito Canônico, para dispensar esse critério. No caso, o sumo pontífice - e só ele - pode declarar a “beatificação equipolente”, ou seja, quando o candidato aos altares possui um culto espontâneo em torno à sua pessoa e trajetória. Para isso, basta que o santo padre emita um decreto.
Caso isso ocorra, não será a primeira vez que o papa argentino usará de suas prerrogativas para abrir essa exceção. Um caso famoso foi o de seu antecessor, João XXIII, que foi canonizado em 2014 sem exigência do milagre.
Francisco nunca escondeu sua admiração a Dom Helder, que já foi homenageado várias vezes ao longo do seu pontificado. Em 2016, em reunião com os bispos italianos, ele disse, citando o arcebispo cearense:
“Quando teu navio, ancorado muito tempo no porto, começar a criar raízes na estagnação do cais, faz-te ao largo, exortava D. Hélder Câmara”.
Em 2020, durante o tradicional discurso de Natal, dirigido à Cúria Romana, recordou o religioso brasileiro, chamando-o, inclusive, de santo:
“E recordo o que dizia aquele santo bispo brasileiro: ‘Quando me ocupo dos pobres, dizem de mim que sou um santo; mas, quando me pergunto e lhes pergunto: ‘Porquê tanta pobreza?’, chamam-me comunista”, enfatizou Francisco.
O processo de Dom Helder caminha a passos largos. Sendo assim, não nos surpreenderíamos se Francisco anunciasse sua beatificação no encerramento do Sínodo sobre a Sinodalidade, previsto para 2024. Isso porque o religioso cearense encarna o modelo de Igreja que Francisco tenta instaurar desde que assumiu o governo da Igreja Católica.
Conhecido como o bispo do diálogo - portanto, como um prelado sinodal - ele se tornaria o símbolo dessa transformação que o papa argentino realiza: uma instituição que promove o protagonismo de “todo o povo de Deus”, não somente os ditames da hierarquia.
E se formos fazer uma análise bem técnica de algumas decisões de Francisco, a própria canonização de João XXIII, de 2014, não foi simplesmente a ocasião para reconhecer a santidade desse papa. O “papa bom”, como era conhecido, foi o líder da Igreja Católica que convocou o Concílio Vaticano II (1962-1965), a assembleia que mudou a forma de atuação da Igreja Católica para colocá-la em contato com os anseios do mundo moderno. Sem contar que o próprio Papa Francisco admitiu que, caso não fosse chamado Francisco, adotaria o nome de “João 24” justamente por se alinhar com a forma de governar desse seu predecessor.
Sendo assim, a beatificação de Dom Helder também será carregada de simbolismo, caso ocorra no reinado de Francisco. Ele não foi só o bispo que lutou contra a ditadura, mas foi precursor desse modelo de Igreja que Francisco evoca. Declará-lo beato, portanto, vai além de reconhecer que ele intercede pelos mortais no céu, mas será a “sacralização” do clero que Francisco, a duras penas, tenta formar.
Então, vamos aguardar.
Mirticeli Medeiros
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.FONTE: https://domtotal.com
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