Juan Diego tinha pedido um sinal para Nossa Senhora, de modo que o bispo pudesse acreditar no que dizia: “Está bem, meu filhinho, voltarás aqui amanhã para levares ao bispo o sinal que te pediu”.
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No dia seguinte, no entanto, o tio de Juan Diego, chamado Juan Bernardino adoeceu e ficou muito mal. Ele pediu a Juan Diego que procurasse um sacerdote que viesse confessá-lo e prepará-lo para uma boa morte.
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Chegando à colina onde Nossa Senhora aparecia, Juan Diego a contornou para que Ela não o detivesse. Sem sucesso, pois Ela o observava lá do alto e desceu para conversar. O índio explicou-Lhe que o tio estava morrendo.
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“Não te aflija ou te perturbe a doença do teu tio, porque dela não morrerá por agora”.
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E imediatamente, naquele mesmo momento, o tio de Juan Diego ficou curado, como depois se soube.
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A Rainha do Céu mandou-o então subir até o topo da colina, no lugar onde a vira das outras vezes. Lá encontraria flores variadas, devendo cortá-las, reuni-las e trazê-las até Ela.
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Chegando ao topo, ficou muito admirado ao ver quantas flores havia, lindas, abertas as corolas, as mais variadas e formosas, quando ainda não era tempo delas, pois era a estação em que o frio aumentava. Exalavam um odor suave. Cortou-as, colocou-as em seu poncho e desceu.
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A Menina Celestial as pegou em suas veneráveis mãos e depois as colocou de volta no manto do índio, e enviou-o para que as mostrasse ao bispo. No caminho, desfrutava do aroma das flores.
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Quando chegou ao palácio do bispo, foram ao seu encontro o porteiro e os outros servidores. Suplicou-lhes para que o deixassem entrar, mas em vão. Ficou esperando muitíssimo tempo, até que viram que ele permanecia ali, de pé, cabisbaixo, sem fazer nada, esperando ser chamado. Perceberam que ele trazia alguma coisa. Então, aproximaram-se e foram satisfazer a curiosidade. Juan Diego viu que de nenhuma maneira poderia ocultar-lhes o que trazia e que estavam dispostos a machucá-lo, que o empurrariam ou até lhe bateriam com paus. Por isso, mostrou-lhes um pouquinho as flores.
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E quando os servidores viram que se tratava de flores finas e variadas, admiraram-se, pois não era tempo delas. O frescor, as corolas abertas, o perfume agradável, e como eram bonitas! Quiseram pegar e tirar algumas: três vezes aconteceu que tentaram pegá-las, mas não conseguiram de forma alguma, porque, ao tentarem, já não conseguiam ver as flores, mas viam-nas como que pintadas, bordadas ou cosidas no manto. Perplexos, foram correndo avisar ao bispo.
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Diante do bispo estendeu o seu branco poncho, em cujo vão colocara as flores, e eis que surge a imagem da Perfeita Virgem Santa Maria de Guadalupe, Mãe de Deus, na forma e figura como a conhecemos.
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Não bastassem esses fatos extraordinários ligados à aparição, mais alguns ficaram sem explicação:
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- Em 1785 fabricaram-se diversas cópias idênticas do manto de Juan Diego, com uma reprodução da imagem pintada sobre elas, para estudar os efeitos da passagem do tempo no tecido e nas figuras. Um desses ponchos, protegido por dois vidros, foi colocado na capela de El Pozito, em 12 de setembro de 1789. Seis anos e meio depois, porém, foi necessário retirá-lo do altar em que estava, tal era o grau de deterioração da pintura. Poucos anos depois, o próprio tecido se desfez totalmente. Sabe-se hoje, que os tecidos da fibra de agave, planta de que foi feito o manto, mesmo os mais bem trabalhados, dificilmente perduram por mais de 20 anos. O de Juan Diego, porém, tem quase 500! E nesse meio tempo, encontrou-se exposto a condições extremamente desfavoráveis: durante mais de um século não teve proteção alguma, até que em 1647 chegou da Espanha o primeiro vidro. O ambiente da velha igreja era úmido e ela era rodeada por lagunas salobras. Mais de 60 lâmpadas de óleo ardiam dia e noite perto da imagem, desprendendo um fumo negro e pegajoso, do qual não se nota sinais no manto.
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- Em 1791, um ourives que fora encarregado de limpar a moldura da imagem, derramou ácido nítrico sobre a tela. De acordo com os testes químicos realizados posteriormente, o ácido nítrico deveria ter corroído as fibras do local atingido. Mas nada aconteceu. Ficaram apenas umas manchas amareladas, que vêm desaparecendo com o tempo.
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- Em 14 de dezembro de 1921, num momento em que a basílica estava vazia, Luciano Perez, um operário da construção civil, entrou na igreja trazendo, com muita dificuldade, um descomunal ramalhete de flores. Na verdade, continha uma carga de dinamite escondida. Subiu os degraus do altar e depositou a oferenda aos pés da Virgem. Retirou-se imediatamente, e pouco depois a bomba explodiu. O mármore dos degraus do altar ficou reduzido a cacos, os candelabros e objetos de metal retorceram-se como se fossem cera, todos os vidros da igreja e os dos prédios vizinhos ficaram estilhaçados com a violência da explosão, mas o vidro que protegia a imagem não chegou a apresentar sequer um arranhão.
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- O químico austríaco Richard Kuhn, ganhador do Prêmio Nobel, em 1938, disse textualmente: “Não se entende de que modo a imagem foi pintada: nas fibras não existem corantes vegetais, nem animais, nem minerais e muito menos sintéticos.”
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- Em 1979, os pesquisadores Phillip S. Callahan, da NASA, e Jody Brant Smith, catedrático de Filosofia da Ciência no Pensacola College, descobriram que não houve tratamento algum nem preparação prévia da tela em que foi pintada a imagem, fato que torna incompreensível não só a duração da imagem, como o modo pelo qual foi possível fixá-la sobre o pano. Mais: a imagem não apresenta desenhos de fundo, esboços ou retificações. E ainda: não há pinceladas, pois a imagem formou-se, embora pareça impossível, como se fosse uma fotografia da Virgem, e a tela fez as vezes do papel fotográfico. Ou seja, não há esboços, não há modificações, não se usaram pincéis.
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OS OLHOS DA VIRGEM
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Os olhos da Virgem merecem um capítulo à parte de tão extraordinários. Em 1926, o fotógrafo Alfonso Marcué, trabalhando sobre umas fotografias que fizera da imagem, descobriu a existência de uma figura no olho direito. Tempos depois, o pintor e fotógrafo José Carlos Salinas, aparentemente sem ter notícias da descoberta de Marcué, fez a mesma constatação. Tratava-se de uma figura humana masculina, da qual se viam a cabeça, o ombro, uma mão roçando a barba, e o rosto, cuja expressão denotava assombro e concentração.
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Tornada pública a descoberta, diversos especialistas em oftalmologia, incluídos os médicos Torroella, Ugalde e Palacios, passaram a pesquisar o assunto, e começaram a fazer novas comprovações que raiavam o inverossímil. Atestaram, com toda nitidez e sem a necessidade de nenhum instrumento ótico, a figura de um busto de homem simetricamente colocado em ambos os olhos e que corresponde ao reflexo corneal, de acordo com as leis da física.
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Quando se aplicavam os aparelhos óticos aos olhos da imagem, estes pareciam ganhar brilho e profundidade, como se fossem os olhos de uma pessoa viva, e além disso obedeciam a todas e a cada uma das leis da física ocular, como por exemplo as de Purkinje-Samson.
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Os oftalmologistas Purkinje, polonês, e Samson, francês, descobriram independentemente um do outro que no olho humano se formam três reflexos de qualquer objeto enfocado pela pessoa: um na superfície da córnea, direto e brilhante, outro, que se vê num plano mais profundo, na superfície anterior do cristalino, também direto, mas menos brilhante, e o terceiro, formado na superfície posterior ao cristalino, invertido, menor e com uma profundidade e um brilho intermédios entre os dois primeiros.
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A dificuldade de reproduzir pictoricamente esses três reflexos é enorme. Em primeiro lugar, o olho pintado teria que ter uma profundidade e um grau de luminosidade quase reais. Além disso, a curvatura da córnea e do cristalino produzem uma deformação do objeto refletido. Finalmente a posição das imagens depende do ângulo de entrada da luz no olho: se a fonte luminosa sobe, o primeiro e o segundo reflexos sobem também, mas o terceiro, o invertido, desce. Se a fonte de luz é deslocada para a direita, esta última imagem desloca-se para a esquerda e as outras duas para a direita, e assim por diante.
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O “homem com barba” aparece, portanto, três vezes nos olhos da Virgem, seguindo rigorosamente as leis de Purkinje-Samson. Uma imagem de quatro milímetros de altura por um de largura, direta e brilhante, parece sair da tela. Uma segunda, de igual tamanho, mais profunda e menos brilhante, pode ser observada perfeitamente no interior do olho. E uma terceira, que mal chega a um milímetro de tamanho, está situada a meio caminho entre as outras duas, tem brilho intermédio e está invertida e deslocada para a esquerda...
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Depois dessa descoberta, a hierarquia local encomendou um relatório completo a um dos mais competentes oftalmologistas da América Central, o Dr. Torija Lavoignet. A síntese de suas conclusões foram as seguintes:
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- Pode-se observar a olho nu e com bastante nitidez o reflexo de um busto humano no olho direito da imagem original guadalupana. No olho esquerdo, vê-se a mesma imagem, na distância e com a distorção correspondentes às leis da física ótica.
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- O reflexo deste busto humano situa-se na superfície da córnea, e é impossível obter-se semelhante reflexo numa superfície plana e opaca como é a tela examinada.
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- A distorção do busto corresponde à curvatura normal da córnea, e o seu reflexo se destaca por sobre toda a íris como se se tratasse de um olho vivo.
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- Além deste reflexo, observam-se outras duas imagens desse mesmo busto que correspondem às três imagens de Purkinje-Samson. Nessas imagens, o ombro e o braço da figura refletida ultrapassam o círculo da pupila, causando um efeito estereoscópico igual ao que se observa num olho humano vivo.
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- Ao ser iluminada, a íris torna-se brilhante e os reflexos luminosos contrastam com maior clareza, fenômeno que se pode perceber sem necessidade de aparelhos, e que induzem o observador a pensar que se trata de um olho humano “in vivo”.
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Por fim, no estudo mais recente sobre os olhos da Virgem de Guadalupe, em 1981, o engenheiro de sistemas Aste Tonsman conseguiu reproduzir “o que a imagem viu”:
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- No olho esquerdo, na parte mais afastada do nariz, identificou a figura de um índio seminu, visível de corpo inteiro, acocorado no chão e de mãos postas, olhando assombrado para outro índio que solta a parte de baixo de seu poncho.
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- Um ancião, que está olhando para baixo, com o que parece uma grossa lágrima correndo dos olhos até a linha dos lábios. A semelhança com o primeiro bispo do México, Juan de Zumárraga, é extraordinária, segundo o retrato que dele temos num quadro de Miguel Cabrera, possivelmente feito a partir de alguma pintura contemporânea da aparição.
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- Imediatamente à esquerda do ancião, a figura de uma pessoa muito jovem, talvez o frade Juan Gonzáles, tradutor do bispo.
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- À esquerda do tradutor e bem em frente do bispo e do índio seminu, o outro índio, de idade madura (Juan Diego tinha 57 anos no tempo da aparição), trazendo o “sombrero” típico e abrindo o seu poncho.
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- A figura de uma mulher negra, que olha a cena por cima dos ombros de Juan Diego. Efetivamente, o testamento do bispo Zumárraga declara explicitamente: “Dou alforria e faço livre de toda a servidão, Maria, negra, e Pedro, negro, seu marido, escravos que estão nesta casa, para que tais pessoas livres possam dispor de si no que quiserem”.
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- Por fim, o homem de barba, visível com maior nitidez no olho direito, e que parece corresponder a um sacerdote espanhol, com o polegar direito metido na barba e que olha com assombro e concentração o poncho do índio.
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Tonsman concluiu o seguinte: “Mesmo com a atual tecnologia, seria praticamente impossível pintar tantas imagens, e com detalhes tão minuciosos, como as que se descobriram nas córneas dos olhos da Virgem. Recordemos que o diâmetro dessas córneas é de apenas 7 ou 8 milímetros, e é preciso enfatizar a rudeza do material em que estão impressas. Dada a impossibilidade de explicar por meios naturais a gravação das imagens encontradas, a hipótese que apresentamos a seguir trata de justificar a presença de todos esses personagens, aceitando como um fato sobrenatural (milagroso) a estampagem da imagem da Virgem de Guadalupe. Embora essa hipótese não possa ser comprovada por meios científicos, permitiria explicar por que essas pessoas aparecem nos lugares em que estão, e ajudaria a lançar luzes sobre a cena do milagre a partir do conjunto que se parece poder observar na córnea”.
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Eis a hipótese por ele formulada:
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- Que diversas pessoas estavam presentes na cena do milagre, coisa que concorda com relatos da época, pois quando os empregados perceberam algo extraordinário no poncho de Juan Diego, foram avisar ao bispo e entraram junto com o asteca , o que explica a presença do índio seminu, da negra e do tradutor.
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- Que, também de acordo com o relato original, a gravação da imagem se produziu no instante em que o índio deixou cair as flores diante do bispo.
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- Que a aparição não se deu diretamente, como uma pintura, sobre o poncho, mas que a Virgem apareceu “fora” dele, podendo assim acontecer que todos os presentes ficassem refletidos na córnea de seu olho. A imagem do poncho seria, neste caso, como que o reflexo num espelho dessa aparição da Virgem.
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Fonte: O mistério de Guadalupe, de Francisco Ansón, Editora Quadrante.
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