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18 de mar. de 2011

Nossas casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios e vivemos sós!

18.03.2011 - Por Gregório Vivanco Lopes

O Prof. José Antônio Oliveira de Resende da Universidade Federal em São João d’El-Rey (MG) faz um depoimento interessante. Ele descreve alguns hábitos familiares de outrora, ainda perfumados pelo que restava de civilização cristã, e hoje desaparecidos, submersos que foram pela enxurrada do paganismo moderno.
Fala-nos das visitas que as famílias se faziam, e que constituíam costume ainda na década de 1950. Vinham impregnadas daquele prazer inocente da família católica, como resto ainda vivo da civilização cristã outrora pujante. Vamos ao texto.

* * *
“Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho, porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.

E os donos da casa recebiam alegres a visita: ‘Vamos nos assentar, gente! Que surpresa agradável!’

A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre, e minha mãe de papo com a comadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro, casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.

Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras, que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, alguém lá da cozinha, geralmente uma das filhas, dizia: Gente, vem aqui pra dentro, que o café está na mesa.

O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite… tudo sobre a mesa.

Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança… Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam…. era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade…

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos… até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou, e me formei em solidão. Para isso tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail… Cada um na sua, e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa, e as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.”

Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/




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